Esse post não se propõe a trazer ideias preconcebidas
socialmente, mas parte de um desejo de escrever sobre um tema controverso e repleto
de simbolismos, a traição. Aqui não se trata de poliamor (relação aberta e consentida entre o casal), mas de situações que envolvem o rompimento de um 'acordo' de confiança e fidelidade.
Apesar de muitas vezes se associar a palavra trair ao ato da
infidelidade conjugal, existem diferentes modos de traição, desde trair a
confiança, ofender a imagem da (o) companheira (o), até trair os próprios
valores e crenças.
Sobre o tema, fui entendendo que minhas ancestrais traziam em
suas histórias um ciclo crônico que girava em torno de relações afetivas
enredadas por mentiras e traições. Uma tia avó, farmacêutica conhecida que
viveu no interior de Minas Gerais morreu de “mal de amor”, assim diziam os
médicos. Ela ‘amou’ e casou-se com um homem que era viciado em jogo, mentia e mantinha relacionamentos extraconjugais. De fato, ela morreu de
decepção por ter sido traída de várias formas, não somente pelas posturas
do marido, mas por ter depositado boa parte de sua vida e, quiçá, esperança
naquela relação amorosa. Essa mulher fez sua morada no outro e não em si mesma.
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"...fui entendendo que minhas ancestrais traziam em suas histórias um ciclo crônico que girava em torno de relações afetivas enredadas por mentiras e traições". Imagem: Google. |
Certa vez, uma ex-colega de trabalho confidenciou-me que
mantinha um caso com um rapaz que namorava. Ela, sendo solteira, acreditava que
não havia responsabilidade para si quanto a situação, uma vez que ele tinha
firmado um compromisso com outra pessoa e ela não. Na época interroguei-me
sobre essa fala, não questionando o ato, mas a percepção de não
comprometimento. Acredito que somos seres energéticos e que isso influencia
todos os âmbitos da vida, partindo desse princípio, ao nos envolvermos em relações
(afetiva/sexuais) há um comprometimento (positivo ou não) do campo vibratório.
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"ao nos envolvermos em relações (afetiva/sexuais) há um comprometimento (positivo ou não) do campo vibratório".
Imagem: Poster - Ocean of love Bliss - Alex Grey
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Faz um tempo li dois livros escritos por psicanalistas que
abordam o tema da traição. O primeiro é de uma autora brasileira, Regina
Navarro Lins, intitulado “A cama na varanda - arejando nossas ideias a respeito de amor e sexo”, grosso modo, a autora descreve situações de traição como algo inato e até necessário ao bom funcionamento de uma relação à
dois. É como se houvesse uma necessidade biológica e primitiva a poligamia. Num
primeiro momento a ideia até faz sentido, pode-se sentir desejo e atração por outras pessoas independente de um compromisso firmado. Porém, essa entrega aos desejos biológicos levou-me a novas pensações: se nos dias de hoje
todos sucumbirem aos instintos e impulsos, tornaria-se justificável matar alguém
num momento de acesso de raiva para aliviar a fúria, não é mesmo? A linha entre o racional e o impulso é tênue, mas o processo da racionalização é o que nos diferencia dos animais e consequentemente nos permite fazer escolhas refletidas.
O outro autor, um italiano que se chama Massimo Recalcati,
escreveu o livro “Não é mais como antes – elogio do perdão na vida amorosa”. Em
suma, diz que ao saber-se traída a pessoa pode sentir algo semelhante ao
processo de luto. Passa a existir várias mortes, como dos sonhos de uma união
sincera e confiável. E nesse caso, ele apresenta dois caminhos possíveis: 1) honrar o amor e a
confiança que um dia existiram, e em nome disso romper a relação, ou, 2) oferecer
uma nova chance a essa união, no entanto com a certeza de que não é mais como
antes, nunca mais.
Pareceu-me mais justo e sensato o olhar desse autor, de fato
por uma identificação pessoal com a crença de que amores honestos existem e que esse
campo é tão fértil que merece ser cuidado. Recalcati não endemoniza a pessoa que trai, nem santifica o
traído, apenas mostra que em tal situação, invariavelmente, há um
comprometimento da relação e das pessoas envolvidas e ficar ou romper, compõem as escolhas que se deve fazer conforme o que é possível afetiva e
emocionalmente.
Arrisco dizer que o grande desafio na fidelidade está em fazer
escolhas, em honrar acordos, avaliar prós e contras, olhar para o outro e pensar se é com ele que se deseja estar nesse momento. E isso pressupõe abri mão
de algumas coisas para que se ganhe outras!
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"o grande desafio na fidelidade está em fazer escolhas, em honrar acordos, avaliar prós e contras, olhar para o outro e pensar se é com ele que se deseja estar". Imagem: Irina Vitalievna Karkabi |
Para encerrar deixo um trecho do livro do autor italiano:
“É a fidelidade contida na promessa que introduz um fragmento
de eternidade no passar do tempo, transformando o acaso em destino, a
contingência em necessidade. Por isso e só por isso, e não por razões
moralistas, a fidelidade é uma postura essencial no amor” (Recalcati, 2016,
p.50)
Nossa, que texto lindo! Que assunto difícil!! :) De alguma forma, na maioria das vezes vejo a participação dos dois, o que trai e o traído na traição... Muito difícil a entrada de um outro numa parceria solida. Seguindo Recalcati, a necessidade da eternidade chama pela fidelidade. Mas mais do que isso, o companheirismo, a parceria em tantos sentidos da vida clamam a fidelidade, o que pode significar o rompimento da parceria existente, mas de forma aberta, antes de adentrar a nova pareceria. Pessoalmente, o que me incomoda muito na traição é isso, uma outra(o) fazer parte da minha vida, do meu campo energético sem o meu saber e meu consentimento.
ResponderExcluirBRAVO!!
ResponderExcluirEle não deixava eu ver as mensagens do celular dele, até eu usar o programa espião da https://www.syncsoft.com.br/spymaster/espiao-de-whatsapp.html e ver tudo, descobri que ele apagava tudo no caminho de volta do trabalho para casa, combinava horários. Eu vi a onde ele estava em tempo real.
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