segunda-feira, 24 de junho de 2019

Viajando sozinha por Buenos Aires (Parte 2)







Selfie em Puerto de Frutos
(Arquivo Pessoal) 





















Olá, pessoal!


Primeiro quero dizer que o intuito desse post é falar sobre a maravilha que é (pode ser) viajar sozinha! Companhias são fantásticas, porém, explorar caminhos tendo que tomar decisões por você mesma pode ser uma experiência ora assustadora, ora vibrante e ambas nos ajudam a chegar ao equilíbrio. 


Nesse post trago informações sobre a segunda parte da viagem sozinha à BA e algumas sugestões de "o que fazer" na capital Portenha, além disso compartilho um pouco das impressões em cada local.


Antes de chegar a Argentina montei um pequeno roteiro turístico e pude aproveitar quase tudo que programei, além disso, a Lita (minha anfitriã) me ajudou a pensar na logística dos passeios.


Palermo – Buenos Aires tem praças por todos os lados, e em Palermo não é diferente. Nas praças dá vontade de levar um livro ou ouvir uma música e ficar ali um pouco quieta pensando na vida ou pensando em nada!
O que fazer? visita aos bosques, El Rosedal. Plaza Itália. Conhecer o planetário, o jardim japonês, que é repleto de detalhes, tem um restaurante e um museu, o espaço é pequeno, porém aconchegante (entrada paga).



El Rosedal em Palermo - uma praça lindíssima!
(arquivo pessoal)



Jardim Japonês
(Arquivo Pessoal)

Caminito – é um bairro com várias casas coloridas que abrigam feiras, dançarinos, músicos e outros artistas. Também é onde está localizado o estádio do Boca Juniors. Ah, vale uma observação: os artistas de rua pedem para que se pague, caso deseje filmar ou tirar fotos deles. 
A caminho de lá conheci um grupo de brasileiros do interior de São Paulo que me receberam como integrante da turma e passei o dia com eles! 
O que fazer? Compras de presentes, apreciar os artistas, visitar o estádio do Boca. 



Olha aí uma parte do grupo de Sampa que me acolheu na visita ao Caminito
(Arquivo pessoal)


Estrutura dos comércios e casas no Caminito
(Arquivo pessoal)

San Telmo
 – bairro vizinho a Caminito é cheio de bares e espaços que vendem antiguidades. É um espaço mais popular, mas que ferve em termos de cultura local. 

O que fazer? Visitar o Mercado San Telmo que lembra esses mercados que vendem frutas, verduras, carnes, mas também antiguidades; o bairro tem uma feira de artesanato ao ar livre no domingo - ela é enorme e uma ótima opção para presentes de todos os preços e gostos, além de compras pessoais, aproveite para conhecer a escultura da Mafalda do cartunista Quino, comer em algum dos bares do mercado e tomar um sorvete de Dulce de Leche.


Obs.: dá para visitar Caminito e San Telmo no mesmo dia! 



Visitando a Mafalda e sua turma!
(Arquivo pessoal)

Recoleta/Centro - Recoleta é um bairro nobre de BA, com muitos museus e outros espaços de arte como Centros culturais, um cemitério que é aberto a visitação cheio de mausoléus. O centro tem muitos espaços para se conhecer e todos os dias que estive por lá, via na ruas algum tipo de manifestação por direitos da população. Para mim as cafeterias, os teatros (a maioria localizada nessa região) e as livrarias valem cada momento da viagem.  
O que fazer? Visitas ao Café Tortoni, conhecer o monumento do Obelisco, a Casa Rosada (visitação por agendamento no site - https://visitas.casarosada.gob.ar/), a plaza de mayo (praça de maio), livraria El Ateneo – a maior livraria da cidade, teatro Cólon (visitação paga), museu de Eva Perón, fazer fotos ao lado da sigla da cidade - BA, Centro cultural, Cemitério de Recoleta, Museu de Belas Artes, praças – floralis genérica, faculdade de direito.



Centro cultural em Recoleta
(arquivo pessoal)

Uma curiosidade sobre a ‘plaza de mayo’, que fica em frente a Casa Rosada: existe uma associação de mulheres que se chama “abuelas de plaza de mayo” (avós da praça de maio) que se reúne todas as tardes para dar uma volta completa na praça. É uma forma de se manifestarem quanto aos bebês que nasceram em cativeiro durante a ditadura militar e foram retirados de suas famílias, sendo criados por famílias de militares e outras pessoas influentes (ou não) da época. Existe até divulgação na mídia do tipo: se você nasceu entre tal data e tal data e acredita que pode ter sido adotado (a), nos procure para investigarmos suas origens. Vários netos (as) foram localizados (até hoje 130), porém ainda existem desaparecidos.  

Nesse link do jornal El pais, existem mais informações sobre o último neto localizado (divulgação de junho de 2019) -  https://elpais.com/internacional/2019/06/13/argentina/1560433071_820106.html

Foto de manifestação das 'Abuelas de plaza de mayo' -
Cartaz: "Onde estão as centenas de bebês nascidos em cativeiro?"
(Fonte: imagens google)


Puerto Madero: um bairro projetado que abriga elegantes restaurantes e a belíssima Puente de la Mujer! O lugar é moderno e elegante. Até o ano de 2017 não havia ônibus ou metrô passando por lá, por isso, o meio de transporte mais comum para acessar o bairro era por carro. 

(Existe a opção de alugar bike em BA, existem diversos sites que ensinam a fazer o aluguel - https://aguiarbuenosaires.com/alugueldebicicletaembuenosaires/ - e até passeios guiados com bike). 



City tour noturno a Puerto Madero
Realizado pela equipe da “Aires Buenos”
(Arquivo Pessoal)
City tour noturno: ainda no Brasil fiz contato com um grupo de brasileiros que vive em BA e comprei um city tour noturno pela empresa "Aires Buenos" (site: http://airesbuenosblog.com/city-tour-noturno-em-buenos-aires/), foi uma experiência fantástica e pude conhecer muitos lugares  de BA. Encerramos a visitação fazendo um brinde no restaurante alemão Zirkel que tem uma bela vista panorâmica da cidade
A Aires Buenos também oferece outros passeios como o “lado B”, no qual apresentam um cenário mais alternativo da capital Argentina.


Brinde ao final do city tour noturno, no restaurante Alemão Zirkel
(Arquivo pessoal)

Cidade de Tigre: Tigre é uma cidade vizinha à Buenos Aires, simples, mas gostosa de se conhecer. Peguei um Trem em BA sentido Tigre, uma viagem rápida (uns 20 minutos) e muito tranquila. Caso programe-se com antecedência dá para ir até o Uruguai em uma cidadezinha chamada Colônia do Sacramento, um “bate e volta” ou se preferir programar-se para se hospedar por lá.
O que fazer? Um passeio pelo delta do rio, visitar a feira de 'Puerto de Frutos' (feira de artesanatos), cassino (para quem gosta), comer em um dos restaurantes da região! 




Quitutes vendidos em Tigre
(Arquivo pessoal)

Belgrano:
 bairro no qual fiquei hospedada, bem perto do aeroporto da cidade (Aeroparque) e do bairro 'Chino', tem shopping, cavalaria da polícia, clube de vinhos de Buenos Aires. Para quem gosta de feiras populares vale conhecer o bairro 'Chino', tem inclusive um supermercado com grande variedade de produtos importados.



Portal de entrada do bairro 'Chino'
(arquivo pessoal)


Por fim, o local da viagem conta? Ele complementa sim, mas para mim, não é o essencial, aqui se trata da experiência de descobrir-se capaz de romper barreiras íntimas (medos, inseguranças, desafiar limites e até respeitar limites).
Atendo no consultório pessoas que percorreram e percorrem o mundo e que podem dizer de outros países com uma propriedade enorme, por isso, essa escrita não pretendeu esgotar as possibilidades de explorar a cidade visitada e sim trazer à tona a sensação de ser quem você é, estando com você mesma, por meio de uma viagem.


Selfie em Palermo
(Arquivo pessoal)

Tem um movimento feminino super bacana que vem estimulando as mulheres a desbravarem o mundo em viagens! Caso você sinta que é a hora de ir, vá! E se ainda não for, não tem problema, mas saiba que você não está sozinha!
O importante é mantermos viva a crença de que existe um mundo para ser explorado (o interno) e que o mundo externo, pode contribuir para essa expedição de autoconhecimento! 

E você já viajou sozinha (o)? Como foi sua experiência? Compartilha aqui com a gente! 

Um abraço e até o próximo post. 























































terça-feira, 26 de junho de 2018

Viajando sozinha por Buenos Aires

Oi, gente! Demorei para escrever sobre essa viagem, pois na época li tantos sites e blogs com uma experiência enorme em Buenos Aires (BA) que acabei considerando que não teria muito a contribuir. Ledo engano! Já que a proposta aqui é levar o olhar a “milanesa” e dar sugestões, não é mesmo? Apesar de ter mais de um ano, acredito que as dicas podem contribuir para quem deseja conhecer a capital Argentina!

Por ter muita informação e para facilitar a leitura, decidi dividir o post em duas partes.
Na primeira, escrevo sobre meu planejamento de viagem, algumas coisas que fiz no bairro no qual fiquei hospedada (Belgrano) e dicas sobre "comer e beber".
Já na segunda parte, apresento sugestões quanto ao que fazer conforme os bairros da capital Argentina e um passeio na cidade vizinha.

Ah! No final do primeiro post inseri os links de alguns sites e blogs que enriqueceram o roteiro de viagem que montei, vale a pena acessá-los!


Viajando sozinha por Buenos Aires (Parte 1)


Fiz o planejamento de minha viagem com 4 meses de antecedência. Conheci BA no mês de abril de 2017; estava começando o frio por lá, mas ainda peguei um clima ameno. Foi minha primeira viagem internacional e sozinha, por isso acredito que essa experiência pode contribuir para desmistificar medos que (ainda) possam existir na mulherada que deseja viajar sozinha. Foram 7 dias de muito aprendizado em uma outra cultura. A-M-E-I!!!

Aluguei um quarto de uma moradora de BA, pelo site Airbnb (https://www.airbnb.com.br/) e foi uma das melhoras experiência que já tive! Minha anfitriã (Lita) foi receptiva e me ajudou em tudo, dando dicas valiosas quanto aos lugares para visitar, comer e como chegar. Cedeu-me um cartão de transporte (que eu mesma recarregava) e quando eu queria utilizava a cozinhava da casa.

Macarrão com camarão e brócolis feito por mim!
(Arquivo pessoal)

Como gosto de conhecer a realidade dos lugares para os quais viajo, programei-me para chegar e comprar algumas coisas e preparar uma comidinha com os ingredientes locais. Fiz isso no primeiro dia e senti-me uma nativa! Nos outros dias conheci os restaurantes e bares, mas essa primeira experiência de ir a um local “não turístico” foi muito valiosa, pois rodei pelo comércio do bairro de Belgrano, “arranhei” meu espanhol, assisti a uma briga (que para eles é uma conversa acalorada) e trombei com vários brasileiros. Ou seja, pude conhecer um pouco da dinâmica dessa cidade, extra turismo (minha cara!!!!).

Passeando por Belgrano - Lateral do restaurante 'La Dorita'
(arquivo pessoal)
Quando estive por lá, a moeda (peso argentino) estava desvalorizada (4 por 1) em comparação ao Real e pude notar como comprei coisas de qualidade com um preço justo. Porém, é ilusão pensar que teremos um poder de compra 4 vezes maior, pois, muitas coisas são caras por lá. Exemplo? Água mineral! Tinha lugares que a garrafinha de 500ml chegava a custar o equivalente a R$10,00! A dica é comprar em supermercados ou nos kioskos (quiosques que vendem chocolates, balas e coisas do gênero e estão espalhados pela cidade), aí ela sai por R$5,00 até menos.

Minhas observações sobre a cidade:

1) Tem uma banca de frutas e uma de flores em cada esquina, é encantador!
Banca de frutas e legumes em Belgrano
(arquivo pessoal)
Banca de Flores em Belgrano (arquivo pessoal)


2) As cafeterias são bastante tradicionais por lá, dão um ar chique ao lugar. Vale conhecer o café mais tradicional da cidade que é o Tortoni (tem vários cafés da rede Starbucks, porém esses existem em outros lugares, né? O legal é aproveitar o que você só encontra na cidade).


Faixada do Café Tortoni, que existe desde 1858
(arquivo pessoal)


Desayuno (café da manhã) - Café Tortoni
(arquivo pessoal)


3) BA é cheia de livrarias! Mesmo para quem não curte leitura, torna-se uma visita atrativa ir até a 'El Ateneo', que funciona no prédio de um antigo teatro e conta com uma arquitetura belíssima. Ela é majestosa e dá a impressão de estarmos em outra época!

Vista do prédio que abriga a livraria El Ateneo
(arquivo pessoal)

El Ateneo é a maior livraria da cidade de BA e está instalada em um antigo teatro,
vale a visita pelos 120 mil títulos e pela beleza do lugar.
(arquivo pessoal)

4) Quando precisei de informações por lá, eles sempre queriam saber o nome das ruas (calles) que se cruzam, por isso, é bom chegar e conseguir um mapa, ele será precioso!  

Placas das calles (ruas) em Belgrano - Luiz Maria Campos y Frederico Lacroze
(arquivo pessoal)


5) Para quem gosta de vinhos, não pode deixar de tomar, ao menos uma taça de um bom vinho argentino. O da imagem abaixo é um malbec, mas existem outras uvas cultivadas no país (Merlot, Shiraz...)


Vinho Malbec e entrada - Voulez Bar em Belgrano
(arquivo pessoal)

6) Os parques e praças da cidade merecem uma visita para apreciação! Alguns têm lagos, pistas de corrida, e todos têm muita gente e animais! Ah!!! Ouvi uma história de que em BA 60% da população tem cachorro! E isso faz sentido, pois vi pessoas passeando com 5, 6 cachorros... e não é história, vejam abaixo a foto que tirei lá! 


Contem comigo, 1, 2, 3, 4 e 5. Viram só?
(arquivo pessoal)
Um dos parques da cidade (acho que esse é em Palermo).
(arquivo pessoal)



Comer e beber (dicas):

Pizza – são super famosas na cidade e têm uma massa mais grossa (não curti muito). Comi na Av. Corrientes, na pizzaria “Guerrin” que é tradicional;
Sorvete – tomei vários dias o da Freddo, e para mim o de “Dulce de leche” bate qualquer outro sabor!
Vinhos – quem desejar levar para casa, os melhores preços são dos vendidos em supermercados. Tem até Carrefour por lá, o que oferece boas variedades. Mas, o supermercado Coto tem preços bem justos.
Água – já falei dela, mas deixo reforçado que é cara se comparada com a água no Brasil, em geral nos supermercados ou Kioscos tem um preço melhor.
Alfajores – para quem gosta (como eu) vale experimentar as diferentes marcas. Existem algumas mais populares como ‘Jorgito’ e ‘Negro’ (gostei muuuuito desse último, ele é delicioso e tem um preço ótimo). E as marcas mais requintadas e um pouco mais caras, como ‘havanna’ e 'Cachafaz', mas vale comprar e experimentar, presentear. Algumas cafeterias e confeitarias também produzem e são muito gostosos.
Empanadas – bem populares entre os portenhos, são espécies de pasteis assados de massa bem fininha. Para quem nunca comeu, acho legal experimentar, por ser tradicional por lá.



Alfajor um dos doces mais comidos em BA
(imagens google)

O que deixei de fazer e me arrependi:

Deixei de conhecer uma Milonga – lugar onde se dança e ensina-se a dançar o tango! Vi uma no meu terceiro dia, mas não dei muita ideia, pois estava voltando do passeio a cidade do Tigre e estava cansada.  Ocorreu em um coreto de uma praça pertinho de onde fiquei hospedada! Depois até achei esse blog que fala delas! - https://www.matraqueando.com.br/cinco-milongas-em-buenos-aires-escolha-a-sua


Fotografei essa Milonga no Belgrano no dia que voltava da cidade de Tigre.
Ficou meio longe, mas dá para ver o pessoal dançando, né?!
(arquivo pessoal)


Bem, coisas para fazer em BA é o que não falta! A cidade é muito cultural com teatros, tangos, cafeterias, praças, parques, museus... em geral os ambientes são bonitos e acolhedores! No próximo post falarei sobre alguns lugares que visitei e algumas sugestões de roteiros. 

Até o próximo post!

Blogs e sites que contribuíram para meu planejamento:

1) ‘Quanto custa viajar?’ – O site nos ajuda a ter uma noção de despesas conforme o roteiro pensado e de acordo com cada bolso! https://quantocustaviajar.com/argentina/buenos-aires

2) ‘Cadeira voadora’ – Ele tornou-se um site sobre acessibilidade e é encabeçado pela grande amiga Laura Martins, mas ainda é possível acessar as viagens que ela fez para BA no blog. http://cadeiravoadora.blogspot.com/2011/01/buenos-aires-de-cadeira-de-rodas-parte.html

3) ‘Aires Buenos’ – um blog criado por brasileiros que vivem em BA, trabalham com turismo alternativo na cidade e cheio de dicas para quem quer conhecer a capital Argentina - http://airesbuenosblog.com/
 
4) ‘Brasileiros por Buenos Aires’ – No site tem de tudo sobre BA. Basta pensar na pergunta e pesquisar! http://brasileirosporbuenosaires.com.br/

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Trair ou não trair? Eis a questão!

Esse post não se propõe a trazer ideias preconcebidas socialmente, mas parte de um desejo de escrever sobre um tema controverso e repleto de simbolismos, a traição. Aqui não se trata de poliamor (relação aberta e consentida entre o casal), mas de situações que envolvem o rompimento de um 'acordo' de confiança e fidelidade. 
Apesar de muitas vezes se associar a palavra trair ao ato da infidelidade conjugal, existem diferentes modos de traição, desde trair a confiança, ofender a imagem da (o) companheira (o), até trair os próprios valores e crenças.  

Sobre o tema, fui entendendo que minhas ancestrais traziam em suas histórias um ciclo crônico que girava em torno de relações afetivas enredadas por mentiras e traições. Uma tia avó, farmacêutica conhecida que viveu no interior de Minas Gerais morreu de “mal de amor”, assim diziam os médicos. Ela ‘amou’ e casou-se com um homem que era viciado em jogo, mentia e mantinha relacionamentos extraconjugais. De fato, ela morreu de decepção por ter sido traída de várias formas, não somente pelas posturas do marido, mas por ter depositado boa parte de sua vida e, quiçá, esperança naquela relação amorosa. Essa mulher fez sua morada no outro e não em si mesma.

 "...fui entendendo que minhas ancestrais traziam em suas histórias um ciclo crônico que girava em torno de relações afetivas enredadas por mentiras e traições". Imagem: Google.

Certa vez, uma ex-colega de trabalho confidenciou-me que mantinha um caso com um rapaz que namorava. Ela, sendo solteira, acreditava que não havia responsabilidade para si quanto a situação, uma vez que ele tinha firmado um compromisso com outra pessoa e ela não. Na época interroguei-me sobre essa fala, não questionando o ato, mas a percepção de não comprometimento. Acredito que somos seres energéticos e que isso influencia todos os âmbitos da vida, partindo desse princípio, ao nos envolvermos em relações (afetiva/sexuais) há um comprometimento (positivo ou não) do campo vibratório

"ao nos envolvermos em relações (afetiva/sexuais) há um comprometimento (positivo ou não) do campo vibratório".
Imagem: Poster - Ocean of love Bliss  - Alex Grey

Faz um tempo li dois livros escritos por psicanalistas que abordam o tema da traição. O primeiro é de uma autora brasileira, Regina Navarro Lins, intitulado “A cama na varanda - arejando nossas ideias a respeito de amor e sexo”, grosso modo, a autora descreve situações de traição como algo inato e até necessário ao bom funcionamento de uma relação à dois. É como se houvesse uma necessidade biológica e primitiva a poligamia. Num primeiro momento a ideia até faz sentido, pode-se sentir desejo e atração por outras pessoas independente de um compromisso firmado. Porém, essa entrega aos desejos biológicos levou-me a novas pensações: se nos dias de hoje todos sucumbirem aos instintos e impulsos, tornaria-se justificável matar alguém num momento de acesso de raiva para aliviar a fúria, não é mesmo? A linha entre o racional e o impulso é tênue, mas o processo da racionalização é o que nos diferencia dos animais e consequentemente nos permite fazer escolhas refletidas. 

"...o processo da racionalização é o que nos diferencia dos animais e consequentemente nos permite fazer escolhas refletidas".
Imagem: Livro - A cama na Varanda - arejando nossa ideias a respeito de amor e sexo, 1997.

O outro autor, um italiano que se chama Massimo Recalcati, escreveu o livro “Não é mais como antes – elogio do perdão na vida amorosa”. Em suma, diz que ao saber-se traída a pessoa pode sentir algo semelhante ao processo de luto. Passa a existir várias mortes, como dos sonhos de uma união sincera e confiável. E nesse caso, ele apresenta dois caminhos possíveis: 1) honrar o amor e a confiança que um dia existiram, e em nome disso romper a relação, ou, 2) oferecer uma nova chance a essa união, no entanto com a certeza de que não é mais como antes, nunca mais.

Diante da traição pode-se seguir dois caminhos, romper ou dar uma nova chance, na certeza de que não será mais como antes, nunca mais.
Imagem: Livro - Não é mais como antes - Elogio do perdão na vida amorosa, 2016.

Pareceu-me mais justo e sensato o olhar desse autor, de fato por uma identificação pessoal com a crença de que amores honestos existem e que esse campo é tão fértil que merece ser cuidado. Recalcati não endemoniza a pessoa que trai, nem santifica o traído, apenas mostra que em tal situação, invariavelmente, há um comprometimento da relação e das pessoas envolvidas e ficar ou romper, compõem as escolhas que se deve fazer conforme o que é possível afetiva e emocionalmente.

Arrisco dizer que o grande desafio na fidelidade está em fazer escolhas, em honrar acordos, avaliar prós e contras, olhar para o outro e pensar se é com ele que se deseja estar nesse momento. E isso pressupõe abri mão de algumas coisas para que se ganhe outras!


"o grande desafio na fidelidade está em fazer escolhas, em honrar acordos, avaliar prós e contras, olhar para o outro e pensar se é com ele que se deseja estar".
Imagem: Irina Vitalievna Karkabi

Para encerrar deixo um trecho do livro do autor italiano:

“É a fidelidade contida na promessa que introduz um fragmento de eternidade no passar do tempo, transformando o acaso em destino, a contingência em necessidade. Por isso e só por isso, e não por razões moralistas, a fidelidade é uma postura essencial no amor” (Recalcati, 2016, p.50)