terça-feira, 15 de agosto de 2017

O luto na expressão da vida

O luto é um momento que vivemos ao nos depararmos com alguma perda. Em geral relacionado com a morte (fim do que compreendemos ser a vida), pode também ser associado ao término de relacionamentos afetivos, diante da demissão de um trabalho de anos ou em situações de abandono.
Quando sentimos que perdemos algo, que ficou um vazio, surge o luto e junto a ele sentimentos como revolta, raiva, tristeza, culpa...

Elisabeth Kübler-Ross, uma psiquiatra suíça, propõem no livro “Sobre a morte e o morrer” (1969) 5 fases pelas quais passam as pessoas ao viverem o estado de luto, sendo: negação, raiva, barganha/negociação, depressão e aceitação. A ordem das fases pode variar, mas é comum que todos passem por elas para que consigam chegar ao processo de elaboração dessa dor, a dor de ter perdido algo significativo.

Capa do Livro: Sobre a Morte e o Morrer, Elisabeth Kübler-Ross (Fonte: divulgação)

A Cabana um drama escrito em 2008 (William P. Young) e que tornou-se filme em 2017, relata a história de Mack (Sam Worthigton) que apresenta uma mistura de revolta, dor e culpa após o sumiço de sua filha mais nova durante um acampamento de família. O filme, que tem um tom místico/espiritualista descreve o encontro desse homem com Deus, mas não é o “Pai” apresentado por algumas religiões como sendo distante, que vigia e que puni. Deus, Ele, ou melhor Ela (Octavia Spencer) nesse drama, não se restringe a fé religiosa (que é inegavelmente importante para diversas pessoas), mas vai além!

No encontro com Deus, Mack é convidado para um movimento de reaproximação íntima, é chamado para produzir pão, para cuidar do jardim, para passear de barco, para fazer trilhas na floresta e para encarar sua dor. Todos esses momentos são repletos de simbolismo e convocam esse homem (e a quem sentir vontade) a continuar o processo de elaboração de sua grande perda.

Capa do Livro de William P. Young - A cabana (Fonte: divulgação)
Quando temos uma dor enorme em decorrência de uma perda e jogamos essa dor para debaixo do tapete, fingindo não existir, ou ao persistimos no estado de revolta ficamos estagnados. É como se algo estivesse parado, porém o corpo começa a dar sinais de que alguma coisa não está fluindo dentro de nós (hipertensão descontrolada, insônia, depressão, aumento do colesterol...). 

Toda dor deve ser respeitada, toda dor deve ser acolhida, toda dor deve ser vivida. Só é possível a elaboração a partir da aceitação da dor, por maior que ela seja.

Há pouco mais de 30 dias minha família materna viveu uma perda, e ainda está em processo de luto. Espero que todos possam viver a dor para que ela seja elaborada sem subterfúgios, sem máscaras, sem vitimismo, apenas acolher e aceitar a dor para que ela se dissolva. Sinto que estamos buscando formas de nos fortalecer enquanto família, nos unindo e permitindo que o outro se aproxime mais, e isso tem sido muito rico e valoroso.

Toda dor deve ser respeitada, toda dor deve ser acolhida (Fonte: imagens google)

Dia desses uma pessoa muito querida me perguntou:
-Qual o oposto da vida?
-A morte! Eu respondi.
-Não, o oposto da vida é o nascimento!

Cada um pode interpretar essa resposta do modo que lhe for mais familiar, eu interpretei como sendo o nascimento de novas oportunidades, o nascimento de mudanças, o nascimento de um olhar sobre o que não era visto. Quando algo é perdido (morre, vai embora, ou somos obrigados a nos separar) temos ali a possibilidade de vários nascimentos.

O oposto da morte é o nascimento (fonte: imagens google)

Então, diante da perda tenho buscado observar e responder: 
-Quando um ciclo se fecha, qual ciclo está sendo aberto? 
-Quando há morte, o que está tendo a oportunidade de nascer?        

E você, já parou para se perguntar: diante de meus lutos, o que poderá nascer?

Beijos e até o próximo post!