segunda-feira, 20 de março de 2017

Aprender a viver com você mesmo (a): um rico exercício para uma existência saudável

Oi pessoal, estava pensativa sobre qual texto inserir no blog e decidi falar sobre um tema bastante significativo para mim: estar bem com você mesmo para ficar saudável.

A receita da felicidade pode ser, para algumas pessoas, o dinheiro de sobra ou a ausência de conflitos durante a vida, no entanto, acredito que um dos caminhos para essa tal felicidade tenha a ver com aprender a conviver bem consigo mesmo. 

Quem aí gosta de ficar sozinho com seus pensamentos? Quem consegue chegar em casa e deixar a TV desligada, não acessar as redes sociais e ficar realmente em paz com alguns minutos de silêncio? Grande desafio (eu sei!), mas dar-se um tempo para silenciar a agitação é necessário para que haja um encontro com quem nós somos (ou estamos) nesse momento.

No atendimento psicológico é comum o incomodo do cliente[1] diante do “ensurdecedor” silêncio, o silêncio que grita, que extrapola o pensamento e é extravasado no corpo em reações de ansiedade (como: bater os pés, roer as unhas) e desconforto (tensão nos ombros, dor de cabeça).

Ninguém é obrigado a ficar calado (e nem deve!), mas se falamos só por falar, sem que haja conteúdo, podemos perder a oportunidade de pontuar algo que seja significativo, deixando de contribuir para nossa vida e quem sabe, para a vida de quem está ao nosso lado. Mas, para que surja um conteúdo profundo do que é falado, é necessária a reflexão e consequentemente o contato com nosso mundo interno.

Está expresso na música “Certas coisas” (Composição de Lulu Santos – adoro a versão do Lenine) que “não existiria som se não houvesse o silêncio”. O silêncio é o lugar do som! É necessário que se cale para que se escute, para que a fala reverbere. Por isso, devemos silenciar os sons internos (pensamentos, emoções) e externos (os outros) para que ocorra esse encontro entre silêncio e som.


Silêncio e som são complementares e geram o equilíbrio. Crédito: Caroline Celico

Nenhum extremo é bom, nem isolamento total do mundo externo, nem doação total de si ao outro. No primeiro caso, vale ter cuidado para não criarmos um distanciamento entre nós e os outros em prol da ideia de ‘ficarmos sozinhos para sermos saudáveis’. Nesse caso, lembro-me do filme “Comer, rezar e amar” (2010).

No filme, Elizabeth (Julia Roberts) decide fazer uma longa viagem por diferentes partes do mundo para que ela possa se encontrar, visita Itália, Índia e Bali (uma belíssima ilha da Indonésia). Na última fase de sua viagem ela percebe que o recurso da meditação lhe auxiliava nesse encontro interno. Durante suas andanças acaba conhecendo e se apaixonado por Felipe (Javier Bardem), um brasileiro que vive na ilha. Elizabeth entra em crise ao notar que, por estar apaixonada, afastava-se de seu tão ‘sonhado’ equilíbrio interno e passa a questionar seu envolvimento afetivo com Felipe.

Em um diálogo do filme (vídeo abaixo) o curandeiro Ketut diz a Elizabeth que as vezes perder o equilíbrio por amor faz parte de viver a vida em equilíbrio.  Ele não fala de perder-se no sentido de abandonar quem se é, mas de abdicar ao controle total para viver algo significativo com alguém significativo.


              
                                  
                                                Trecho do filme: Comer, Rezar e Amar (2010)


Pode ser que digam: mas isso é só um filme! Sim, porém baseado em uma biografia de Elizabeth Gilbert, e o curandeiro Ketut existe! Vocês podem encontrar mais informações sobre ele clicando aqui: História do Ketut. No mais, acredito que o que ele sugere a Elizabeth é algo a se pensar...


Olha aí o Ketut verdadeiro! Crédito; Faz Kashani

No outro extremo, o medo de viver sozinho com quem se é, pode gerar pessoas dependentes afetivamente, que não conhecem seu potencial e acabam alimentando relações simbióticas, não havendo espaço para elas mesmas. O tempo de dedicação ao outro (chamado de amor) é tão grande que incita a falta de amor próprio. Dedicação total ao outro não é amor, pode ser várias coisas dentre elas fuga. Isso mesmo, ao dedicar tanto tempo e energia ao outro deixamos de nos haver com nossas dores e características que merecem atenção. Pois, ao olharmos para nós mesmos aumentamos as chances de mudanças internas, mas isso exige tempo e esforço.


Assim, o exercício de viver só consigo mesmo para alcançar uma vida saudável é um desafio. Mas como podemos encontrar nossa essência e manter a plenitude? Creio que cultivando o equilíbrio entre o mundo interno e externo.

Imagem do Filme Comer, Rezar e Amar. 
                   
A tod@s nós, um bom exercício! 



[1] O termo cliente é proposto por Carl Rogers e utilizado na abordagem psicológica humanista.